Fim de uma era: após quatro anos, Bahia encerra ciclo em Pituaçu

sábado

A vida é feita de ciclos. Encontros e despedidas. Chegadas e partidas. Neste domingo, mais um ciclo se encerra para o Bahia. O jogo contra o Juazeirense será o último da equipe com mando de campo oficial em Pituaçu. Quatro anos depois da reinauguração, a relação dá um tempo. Alegrias e tristezas acompanharam as cores azul, vermelha e branca na arquibancada colorida. O estádio se viu transformado em uma aquarela tricolor em diversas oportunidades. Foi o palco do Hino Nacional cantado à capela pela torcida. Testemunha de sucessos e derrotas. Relação curta, mas suficiente para dizer, no embalo de Roberto Carlos: “Já está chegando a hora de ir, venho aqui me despedir e dizer: em qualquer lugar por onde eu andar vou lembrar de você”.

O nome oficial é Estádio Governador Roberto Santos. Mera formalidade. O nome de batismo tem sido utilizado apenas em documentos oficiais. No dia a dia, virou Pituaçu. Herdou o nome do Parque Metropolitano onde está inserido, palavra de origem indígena que quer dizer camarão. Na voz e na alma do torcedor do Bahia, é ainda mais íntimo: PituAço.


Há quem diga que o clube e o estádio nunca tiveram uma sintonia perfeita. Culpa da relação quase embrionária com a Fonte Nova. Os críticos falam que a alma do estádio, considerado uma casa provisória, não é a mesma. Realmente há uma grande diferença entre a antiga Fonte Nova e o atual Pituaçu. O estádio que serviu de casa para o Bahia até este domingo tem nível internacional e estrutura quase impecável. Digno de elogio e reverência do coordenador da Seleção Brasileira, Carlos Alberto Parreira:

- É o melhor estádio disparado que visitamos. Que sirva de modelo e exemplo para os outros – disse após uma vistoria, em fevereiro deste ano.


Exuberância distinta do que tinha sido vivido até então pelo torcedor do Bahia, dito o clube do povão no estado. Mas o torcedor soube se adequar. Um capricho aqui, um novo costume ali, e Pituaçu - ou melhor, PituAço - foi capaz até de formar uma nova geração de torcedores. Geração que se despede neste domingo com um saldo muito mais positivo, em números reais, do que os saudosos pela Fonte Nova imaginam.

Foram 139 jogos em Pituaçu. Setenta e duas vitórias, 39 empates e 28 derrotas. Um aproveitamento de 61,15%. Lá, o Bahia retornou à Série A, quebrou um longo jejum de títulos e voltou a disputar uma competição internacional. Abriu essa sequência na estreia do Campeonato Baiano de 2009 e encerra o ciclo no primeiro jogo em casa do Baiano de 2013. Como cantou Roberto Carlos: “Só me resta agora dizer adeus e depois o meu caminho seguir”.

Reconstrução às pressas e inauguração em 2009

Construído inicialmente em 1979, Pituaçu só se tornou efetivamente a casa do Bahia 30 anos depois. O estádio passou por uma reforma emergencial, que incluiu ampliação, após a interdição da Fonte Nova, causada pelo acidente que matou sete pessoas.

Depois de um ano em obras, a reinauguração, no dia 25 de janeiro de 2009, com direito a presença do governador do estado, chuva de pétalas de rosas despejadas por um helicóptero e apresentação de ginástica rítmica. Com a bola rolando, o Bahia iniciou a relação com o estádio com o pé direito.
Diante do Ipitanga, uma vitória tranquila por 4 a 0. Coube ao volante Élton o feito de marcar o primeiro gol da nova praça esportiva. Aos 35 minutos do primeiro tempo, ele pegou rebote da zaga, dominou na coxa e, sem deixar cair, chutou forte da entrada da área. Um golaço para ficar na história.

A relação do Bahia com Pituaçu se estreitou ao longo do ano. Foi o estádio que fez o torcedor se sentir mais próximo do clube. No ano anterior à inauguração, sem um estádio na capital, o Tricolor alternou entre o Armando Oliveira, na cidade de Camaçari, e o Joia da Princesa, em Feira de Santana.
 
Retorno à Série A e fim de jejum

A possibilidade de voltar a mandar os jogos em Salvador não foi o suficiente para ajudar o Bahia a retornar à Primeira Divisão em 2009. Mas, no ano seguinte, após sete longos anos de espera, o torcedor pôde, enfim, voltar a dizer que o clube era de elite. E a festa, como não poderia deixar de ser, teve Pituaçu como palco principal.



O jogo do acesso – um dos 14 neste período com a lotação máxima de 32.157 pagantes – foi contra a Portuguesa. O zagueiro Nen e o atacante Adriano (duas vezes) fizeram os gols que garantiram o triunfo e a vaga na Primeira Divisão. Pituaçu viraria, pela segunda vez, um grande salão de festas azul, vermelho e branco.

- Aqui foi um lugar onde o Bahia teve sucesso, conquistou muita coisa importante. Não pode ser esquecido jamais. O acesso, por exemplo, é um momento que não sai de minha cabeça. Todos lutaram para conseguir aquele objetivo – diz Ávine, apoiado em uma das redes do estádio e com o olhar longe, característico de quem revê, diante de seus olhos, as cenas relatadas.

Uma festa igual à do acesso só pôde ser vista mais de um ano depois. Em 2011, o Bahia voltou a jogar pela Primeira Divisão. O torcedor deu um show na arquibancada de Pituaçu. Mas não se compara ao que foi visto no dia 13 de maio de 2012.

Com a melhor campanha do Campeonato Baiano, o Bahia chegou à decisão com a vantagem do empate. Do outro lado, o maior rival. O Vitória tinha se tornado o carrasco nos últimos anos. Enquanto a parte tricolor amargava um jejum de dez anos sem título, o pedaço rubro-negra era só euforia e provocação com o crescimento anual.

Mas na primeira final de torneio disputada ali, Pituaçu foi pé quente para o Bahia. Em um jogo de seis gols, em que esteve duas vezes atrás no placar, o Tricolor viveu todas as emoções em 90 minutos. Ao final o empate em 3 a 3, com gol salvador de Diones, que fez até o elegante Paulo Roberto Falcão dançar ao ritmo baiano.


 - Foi meu grande momento em Pituaçu, quando fiz o gol do título. Foi muito importante, porque tirou o Bahia da fila de títulos. A gente estava perdendo o jogo por 3 a 2 e precisando do empate para ser campeão. Pela preleção do Falcão, no lance do gol eu deveria estar marcando aqui atrás. Era o que estava combinado. Mas eu fui saindo, vi Lulinha dentro da área e pedi para trocar com ele. Foi a confiança do momento que me levou à área – relembra o volante Diones.

 

 Despedida com sensação de 'até breve'

Pituaçu viveu ainda outro momento histórico para o Bahia. Depois de 23 anos, o time baiano esteve em uma competição internacional. Em 2012, enfrentou o São Paulo na primeira fase da Copa Sul-Americana, mas foi eliminado pelo adversário paulista e não chegou nem a deixar o país.

Neste domingo, quando entrar em campo para enfrentar o Juazeirense, serão dois momentos distintos em um único encontro. O reencontro com o time, que volta a jogar em casa depois de 49 dias, e a despedida de Pituaçu. O último jogo no estádio havia sido no dia 3 de fevereiro, a derrota por 3 a 0 para o ABC, pela Copa do Nordeste.

Após o apito final deste domingo, Pituaçu será parte do passado como mando de campo oficial do Bahia. O próximo compromisso da equipe em Salvador está marcado para um endereço bastante conhecido. No dia 7 de abril, o primeiro clássico Ba-Vi do ano marcará a inauguração da Fonte Nova.


- São duas sensações diferentes. Vamos deixar Pituaçu, onde tivemos muitas alegrias e fomos felizes, e, ao mesmo tempo, a ansiedade de voltar para a Fonte Nova. Nunca joguei lá com a camisa do Bahia, mas sei da relação do clube com o estádio. Vai ser a minha primeira vez lá. Estou ansioso para ver a torcida do Bahia lotar a Fonte. Estou ansioso por esse lado e triste por deixar o estádio onde fomos felizes – revela o capitão Fahel.

A tristeza de Fahel por deixar Pituaçu pode não durar tanto assim. A Fonte Nova será o novo mando de campo do Tricolor,  mas voltar à “casa de aluguel” não está fora de cogitação. Um destes momentos deve ocorrer quando a Fifa assumir a Fonte Nova para a realização da Copa das Confederações.

Portanto, o "adeus" deste domingo pode ser tornar um "até breve". A casa que abrigou o Bahia durante quatro anos continuará à disposição. Mas o ciclo oficial em Pituaçu chegou ao fim. A partir de segunda-feira, um novo será iniciado. Sai de cena o PituAço e retorna, com todo gás, a Fonte Nossa.





Por - globoesporte.com

 
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